quarta-feira, 13 de abril de 2011


"Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta.
Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não vendo. 

Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver! Parece fácil, mas não é.
O que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio. 

(...)De tanto ver, você não vê. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. 

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. 

O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê! 

Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. 

Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos.
É por aí que se instala no coração, o monstro da indiferença."

Otto Lara Resende

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